18 de novembro de 2022

Editorial

 Por Ana Caroline

São Paulo, 18 de novembro - A edição deste mês focou em falar sobre uma problemática importantíssima e que não é comumente comentada pela sociedade brasileira: a exclusão das classes sociais D e C dos cinemas. O entretenimento é um dos pilares da qualidade de vida, tão defendido nos chamados "well-fare state countries", ou em português abrasileirado: um Estado que se preocupa com o seu povo. Contudo, dentre os vários déficits que o país acumula, principalmente depois do 'baque' que foi a pandemia de Covid-19, a situação não tem mostrado muita melhora, pelo contrário, as perspectivas são de baixas.

Os cinemas estão tentando atrair mais público, mas em meio a uma inflação na casa dos dois dígitos, e que o Banco Central, apesar de manter estável a taxa, não descarta aumentar posteriormente, caso seja necessário, a tarefa é árdua. Além disso, as propostas de acabar com a meia-entrada que recentemente foram discutidas e propostas por parlamentares no Congresso Brasileiro, que é o pouco que possibilita aos mais pobres o acesso às telonas, também são outros ataques ao direto à cultura e ao lazer.

Contudo, com o desenrolar da história política no Brasil, as perspectivas até dos menos otimistas é de que pelo menos o básico seja retomado. Sem dúvidas, as classes C e D merecem e possuem o direito de ter o acesso ao lazer, que é garantido na Constituição Federal, embora não praticado no dia a dia e na realidade de muitos que precisam escolher entre se alimentar ou fazer uma visita ao shopping e assistir à 'big screen'. É fato que não será fácil, foram anos de retrocesso que levam tempo para voltar ao seu antigo patamar. A tarefa é, como dito anteriormente, árdua. Mas o brinde aos novos tempos pode, quem sabe, acontecer de frente a uma tela de cinema. 


17 de novembro de 2022

Cinema no Brasil: a exclusão da classe C e D das telonas

Por Ana Caroline


São Paulo, 17 de novembro - No mês de setembro, diversas salas de cinema se reuniram para realizar a Semana do Cinema, com promoções para aumentar a frequência do público que foi bastante prejudicada nesses dois anos de covid. 

 

Mesmo com a campanha da quarta dose da vacinação contra a Covid, a procura por cinema pelo público continuou baixa. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha com parceria do Itaú Cultural revelou que o cinema é a atividade que mais fez falta na pandemia entre outras atividades culturais que também foram mencionadas como teatro, shows, apresentações de danças, biblioteca e centros culturais, mas, que o público ainda prefere consumir produtos audiovisuais em plataformas de streaming no conforto de seus lares. 

 

A proposta da Semana do Cinema é recuperar o número médio de frequência que tinham antes da pandemia, com ingressos a 10 reais e combos com preços mais acessíveis. Algumas salas de cinema foram além de uma semana de promoção e estenderam para até o fim do mês de setembro. O evento foi um sucesso e lotaram diversas salas, quem chegava tarde para comprar via uma fila gigantesca e poucas cadeiras para escolher. 

 

Isso só provou que a mudança do hábito de ir ao cinema vai muito além de uma mudança de comportamento e preferência, mostrou-se muito mais com uma questão social pelos preços salgados dos ingressos e das pipocas. As classes C e D, muitas vezes de regiões periféricas, tem poucas opções de entretenimento e centro culturais perto de suas casas, tornando os shoppings lugares de lazer nos fins de semana. Entretanto, como ir frequentemente ao cinema com a família com ingressos a 40 reais a inteira e 20 a meia de sexta, sábado, domingos e feriados quando a inflação em alta dificulta a manutenção de itens básicos à sobrevivência e permite que 60 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar atualmente no Brasil, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)? 

 

Falta incentivo e campanhas que possam trazer pessoas de baixa renda ao cinema o ano todo, não só em uma única semana do ano. Não é impossível e muitos cinemas já possuem programas e promoções que permitem pagar mais barato pelos ingressos, como Clube de fidelidade, parceria com outras empresas que oferecem 50% de desconto, porém, poderia ser feito mais programas focados nas classes mais baixas em regiões específica, cinemas periféricos, para que a população possa desfrutar desse lazer e fazer disso um hábito.

 

Outra pesquisa divulgada pela Ancine, agência reguladora de produções audiovisuais do Brasil, apontou que apenas 17,3% das classes C e D foram pelo menos 1 vez no cinema no ano de 2017. Ancine aponta que pessoas com maior escolaridade, mesmo de baixa renda, vão ao cinema com mais frequência devido a política de meia-entrada.

 

A meia-entrada não beneficia os mais pobres porque são pessoas que encontram mais barreiras para continuar o estudo, sendo assim, ficam menos tempo como condição de estudante do que uma pessoa de classe mais alta que emenda ensino médio, graduação, pós, mestrado etc do que uma pessoa que terminou o ensino médio e já entrou no mercado de trabalho com horário integral e poucas oportunidades para entrar no ensino superior.

 

A esperança de um novo Governo que possa controlar a inflação de produtos essenciais, incentivar a produção de cultura e lazer, além de tirar o país do mapa da fome novamente permite que a gente sonhe com uma realidade que cultura e lazer seja um assunto abordado com seriedade e traga novas soluções para essas barreiras da população mais carente.

 

11 de novembro de 2022

Por trás da maquiagem, um mega

Por Patrícia Vilas Boas 

São Paulo, 11 de novembro - Uma xícara de café e um energético me seguravam durante a tarde toda. Eu, exausta de um dia cansativo na maquiagem, rolava incansavelmente a linha do tempo do Instagram enquanto as modelos acabavam com o catering no final do desfile. Parecia até que elas tinham reservado todo o espaço de seus estômagos para aquele momento. 

Quando a cliente se certificou que todas as modelos - e quiçá as convidadas “VIPs” do Nova York Fashion Week -, não precisariam mais dos meus serviços (e vai por mim, ela demorou a perceber, ou pelo menos expressar isso a mim) ela me dispensou com um agradecimento seco e o pedido de uma nota fiscal para pagamento em 30 dias, que eu fiz questão de emitir e encaminhar para o seu e-mail no mesmo minuto. 

Até ai meu dia seguia normal como o de qualquer maquiadora que tem o sofrimento representado em letras garrafais as siglas P e J. Não pagaram meu transporte, lá estava eu dentro do metrô nova-iorquino voltando para o cubículo que a empresa tinha alugado como estadia para os prestadores de serviço dessa mega grife parisiense. 

A poucos minutos da minha chegada, meu telefone celular começa a apitar. Na tela, o nome “Contratante” pisca por várias vezes. Eu hesito em atender, conto até três, e aperto o botão verde para falar. Do outro lado da linha, a pergunta mais parecia um pedido de socorro. “Olha, houve um problema com os cálculos da administração e nossa organizadora acabou de perceber que não temos budget suficiente para pagar nossos maquiadores, gostaria de saber se você aceita permuta como parte do pagamento, também temos parceria com uma empresa caríssima de megahair que pode te oferecer os serviços ‘na faixa’, lhe interessa?”.

Dei risada internamente. Depois de 12 horas de trabalho, seis de desfile, o dia todo sem comer, dividindo um cubículo com outros sete artistas e tendo que ouvir as mentiras que os clientes vomitam para a imprensa sobre o quanto a grife glamourosa é sisuda e vai bem financeiramente, ela acha mesmo que eu vou aceitar parte do meu pagamento em fios de cabelo? Pois bem, olhei minha imagem no reflexo do metrô e pensei “eu bem que ficaria legal de cabelo comprido”. E não é que eu fiquei mesmo?

Bohemian Rhapsody, um filme atemporal


Por Patrícia Vilas Boas

São Paulo, 11 de novembro - Há dois anos, o filme "Bohemian Rapsody" deixava o tapete vermelho do Oscar como o maior vencedor de estatuetas da noite. As premiações foram nas categorias Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Ator, na qual Rami Malek ganhou o prêmio pelo papel de protagonista na pele do eterno Freddie Mercury. O ator, para quem não sabe, também já havia atuado na trilogia “Uma Noite no Museu” como o Faraó Akhmenrah. Mas o que há de tão especial no "filme do Queen?"

Baseado em fatos reais, a trama conta a história do cantor imigrante Farrokh Bulsara, mundialmente conhecido como Freddie Mercury, e a formação de uma das bandas mais populares da década de 70 e até hoje grande referência no rock n’ roll, a nossa "Dear Majesty", The Queen!

A atuação de Rami Malek não recebeu o grande prêmio à toa, sua performance foi elogiada pela crítica e a caracterização da personagem nos faz muitas vezes esquecer que estamos falando de um ator e não do próprio Freddie Mercury. Também não podemos deixar de ressaltar a ótima escolha de elenco. A semelhança entre os atores e os reais integrantes da banda na cinebiografia é impressionante, resultado de um ótimo trabalho visual e interpretativo. Temos Gwilym Lee, como Brian May (guitarrista), Joseph Mazzello no papel de John Deacon (baixista) e Ben Hardy sendo Roger Taylor (baterista). 

O cenário também é algo a se comentar. O figurino e os móveis são pensados de acordo com o contexto do período e te leva a uma verdadeira imersão de volta aos tempos de ouro do rock internacional. Desde roupas e objetos, até aos penteados e estilo de vida das personagens, cada detalhe é pensado para que se pareça realmente com um filme de época.

Quanto à trilha sonora, não precisamos nem comentar, né? O longa inteiro é preenchido com os maiores sucessos da banda britânica Queen. "Don't Stop Me Now", "We Will Rock You", "I Want to Break Free" e “Under Pressure” são só alguns dos clássicos que você vai ouvir durante a sessão. A parte mais interessante é compreender como foram desenvolvidas essas canções.

No filme, todo o processo criativo de produção, composição e gravação do álbum "Bohemian Rapsody" (que também serviu de nome à obra) é representado nas cenas com muita originalidade e verossimilhança.  

Ao longo do roteiro, o drama da doença de Freddie Mercury é explorado com muita sensibilidade. Suas relações interpessoais e a forma de lidar com a fama, família e sua bissexualidade é tratado de modo a deixar a obra mais intensa e humana. É aquela parte que nos faz emocionar.

A cinebiografia termina com uma regravação da apresentação da banda Queen no Live Aid, em 1985, que reuniu aproximadamente 82 mil pessoas no Estádio  
de Wembley em Londres e teve transmissão simultânea para mais de 100 países. Anos depois, Freddie Mercury faleceu decorrente a uma pneumonia intensificada pelo vírus da AIDS, na qual era portador, mas deixou como legado uma verdadeira obra-prima discográfica e seu nome marcado para sempre como um dos maiores e mais renomados vocalistas da história do Rock. 

30 de setembro de 2022

Editorial

Por Ana Caroline

São Paulo, 30 de setembro - Assim como em 2018, as eleições deste ano não poderiam deixar de pautar a importância do voto para dar a continuidade na jovem democracia do Brasil. Muito se fala do voto útil e terceira via para combater a polarização que enfrentamos nos últimos anos. Os debates acalorados nas redes sociais apontam diversas visões sobre o momento histórico que estamos vivenciando, mas, apesar de parecer, a escolha é muito mais simples do que imaginamos.

De um lado temos o atual presidente que ameaça a democracia, ataca a imprensa e incentiva atitudes preconceituosas sem nenhum pudor e vergonha. Do outro, temos um candidato que respeita a democracia, mesmo quando ela o ataca, o prende e o condena, aceitando as consequências das atitudes e escolhas feitas por terceiros no momento. O que seria mais fácil realizar no futuro: enfrentar um presidente que apoia o golpe de Estado ou um Presidente que desce a rampa do Planalto quando envolvido em um processo de impeachment, mesmo considerando injusto?

É muito mais fácil cobrar e fiscalizar um candidato que não ataca a imprensa e respeita a liberdade de expressão, -mesmo quando o ofenda, constrange e inventa fake news - do que impedir um golpe militar. Primeiro, precisamos nos livrar do mal maior, que colocou o país novamente no mapa da fome, sucateou programas sociais e negligenciou milhões de vidas quando não levou uma pandemia global com a devida seriedade. Não estamos com opção de escolher o melhor para o momento, pelo contrário, devemos usar o nosso direito ao voto para escolher o menos pior, pois, sabemos que "o que tava ruim, pode piorar" é real. É quase um conhecimento milenar.

 

 

27 de setembro de 2022

A janela de amanhã

Quando se fecha uma porta se abre uma janela e o que resta é olhar por ela

Por Ana Caroline 

São Paulo, 27 de setembro - Um cenário que não muda ou que muda tão pouco, que os detalhes se apresentam quase imperceptíveis em rotinas repetidas e cheias de pressa.

Eu passei a ver o exterior através da minha janela e a paisagem era sempre a mesma, mas, com cada marca no calendário, eu olhava e via algo a mais. Seria um novo tom de azul no céu? Com uma casa que mudou de cor, a roupa no varal, uma planta sem água na varanda alheia, os carros indo e vindo e as pessoas com cara fechada como se fossem suas máscaras? As pessoas sempre usaram máscaras, mas essa era a primeira vez que elas cobriam de fato o rosto. E os olhos se tornaram mais do que nunca as janelas da alma, mais uma janela aberta, porém, várias portas fechadas. Quantas portas se fecharam para que as pessoas tenham tanto medo de se mostrarem frágeis em parar, pedir trégua e descansar?

O teto, os livros, a ordem dos objetos, tudo quase decorado, um tiquetaque incessante em tantos relógios ao mesmo tempo, e alguns relógios pararam de contar as horas, mas as janelas permaneceram abertas e o que restava era olhar por elas, tentando enxergar algo novo, nos detalhes esquecidos, nos sonhos planejados, nas despedidas inesperadas, nas cores desbotadas, nos medos além da janela, que se apresentavam como uma ameaça cheia de incertezas para o amanhã que fazem a gente viver em alerta e se autocobrando?

Quando não olho a janela, a rotina se repente em café, tela, café, tela, café, tela. Sempre com um misto de ansiedade e medo.

Como será a paisagem quando eu abrir a janela amanhã?

23 de setembro de 2022

O palco como ágora da contemporaneidade

Por Patrícia Vilas Boas 

São Paulo, 23 de setembro - Que festivais são palco para protestos políticos, isso não é novidade. Desde o primeiro Woodstock, na década de 60, até os tempos atuais, durante o Lollapalooza, em São Paulo, muitos artistas fizeram de suas apresentações espaços para se posicionarem politicamente. Apesar das reclamações de alguns fãs que divergem politicamente, ou que dizem ter pago seu ingresso "para curtir, e não assistir a protestos", os artistas não erram em quebrar junto com a guitarra ou largar junto com a palheta, o pressuposto da isenção sobre suas imagens.

Bono Vox, vocalista do U2, é figura conhecida quando se aborda a mescla entre protestos e a arte da música. O líder do grupo irlandês sempre procura passar - e com razão - uma mensagem política dentro e fora dos palcos. Em 2018, durante as eleições presidenciais no Brasil, a banda aderiu ao movimento "Ele não", contrário à candidatura de Jair Bolsonaro, enfurecendo os apoiadores do atual presidente e fãs da banda. "A banda não é a mesma de antigamente", disse um usuário no Twitter na época.

Notavelmente, todos têm o direito de se posicionar ou não politicamente. Isto é um fato. E sim, quando se adquire um ingresso para um espetáculo, não há nada que diga que você é obrigado a apoiar um lado ao qual você não se identifica. Mas assim como os ouvintes possuem o livre arbítrio para escolherem atender ou não a um show, os artistas, como cidadãos civis, também têm a liberdade de expressar sua opinião, seja ela política ou não.

Conforme disposto no artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal Brasileira: "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". Quem acha ruim que artistas façam de seus palcos uma ágora da contemporaneidade, precisa ler mais o livrinho verde e amarelo, tão fundamental em tempos de ameaças contra a democracia. 

Claro que isso pode acarretar em consequências para os artistas, os quais precisam estar cientes de uma potencial rechação e preparados para o famoso efeito "blacklash", que pode ser traduzido para o Português como“efeito chicote”, isto é, uma reação generalizada de reprovação a cerca de determinada mudança ou ação. No ano passado, a cantora Juliette foi alvo disso. A ex-BBB perdeu 45 mil seguidores no Instagram após se posicionar contra Bolsonaro e a favor das vacinas. Outros cantores sertanejos, por sua vez, também enfrentaram críticas ao apoiarem manifestações em prol do presidente, como Amado Batista e Sérgio Reis.

"Para mim não faz sentido, vivendo num país do jeito que está, se preocupar se você vai perder seguidor, contrato ou admiração de meia dúzia de pessoas. Porque você entende que você precisa se expressar politicamente. Arte é política", disse a atriz Bruna Marquezine em uma entrevista recente ao podcast "Quem Pode, Pod". Ela deixou claro seu alinhamento ao candidato de esquerda à Presidência da Republica Luiz Inácio Lula da Silva.

Se posicionar politicamente é um direito de todos, e, no Brasil, sendo artista ou não, nada lhe impede de expressar seu pensamento e manifestar suas opiniões pacificamente, um direito conquistado e assegurado com muito esforço - e sangue - após anos de Ditadura Militar. Não interessa se você pagou caro em um ingresso para assistir à apresentação do seu artista preferido e, na hora, ele levantou aquela bandeira que você não concorda. Você tem todo o direito de se retirar e, inclusive, não comparecer mais a concertos dessa pessoa. O direito à livre expressão de opinião se aplica a todos, seja ele seu ídolo ou seu maior inimigo. Aprender a lidar com isso é o primeiro passo para saber viver em uma democracia.

Ninguém sabia que todos já sabem

Um suspense lento, tenso e com personagens profundos lidando com os juros do passado

Por Patrícia Vilas Boas 

São Paulo, 23 de setembro - O filme Todos Já Sabem ou Todos Lo Saben (2018) de Asghar Farhadi acompanha Laura e seus filhos de volta para um pequeno povoado espanhol para celebrar o casamento de um parente. Com um clima caloroso e receptivo, o contexto daquela família vai emergindo de forma natural. O clima se transforma após acontecer um infeliz incidente no meio da celebração, sobrando para os personagens de Penélope Cruz, Javier Bardem, Ricardo Darín e Bárbara Lennie para encontrar uma saída.

Asghar Farhadi consegue construir um suspense lento e sufocante ao mesmo tempo, desde o início do filme, a tensão é sentida. O ritmo do longa não muda em nenhum momento do filme, pelo contrário, mantém-se constante mesmo depois de tantas revelações ou, até mesmo, na solução do caso. 

Todos os detalhes se conectam e nenhum deles é dispensável para a construção da narrativa e aprofundamento dos personagens. Farhadi mostra um olhar sensível para todos aqueles que participam da trama. Um incidente dá início a uma sequência de revelações enquanto todos ali são considerados suspeitos. Os questionamentos de "quem?" e "por que?" aparecem mais de uma vez com palpites de quem poderia ser beneficiado com a situação. 

O cineasta iraniano Asghar Farhadi, já dirigiu filmes premiados como Um Herói, A Separação e O Apartamento, os dois últimos foram vencedores de Oscar de melhor produção em língua estrangeira. Em sua maioria, o diretor busca aplicar um estilo melodramático ao curta, que tenha ligação com seu histórico cultural no Irã. É possível observar reflexos da sua visão de mundo em suas obras e uma evolução notável em sua filmografia, com relação à enredo, estilo e núcleo.

Enquanto o filme Todos Já Sabem trabalha genialmente com o aprofundamento dos personagens, assuntos como política, religião, vícios e questões financeiras dão tom ao drama. O passado se transforma em um dos protagonistas da história, no qual, volta à tona cobrando juros. 

Assistir ao filme sem saber a sinopse não influencia na tensão que o começo traz, pois, na primeira cena o público já sabe que algo irá acontecer a qualquer momento. O filme incomoda por essa sensação de alerta no início, porém, consegue trabalhar o suspense sem cansar. A sensação é de estar ali acompanhando de pertinho cada passo e decisão que os personagens tomam devido a forma que a narrativa é construída.

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