23 de setembro de 2022

O palco como ágora da contemporaneidade

Por Patrícia Vilas Boas 

São Paulo, 23 de setembro - Que festivais são palco para protestos políticos, isso não é novidade. Desde o primeiro Woodstock, na década de 60, até os tempos atuais, durante o Lollapalooza, em São Paulo, muitos artistas fizeram de suas apresentações espaços para se posicionarem politicamente. Apesar das reclamações de alguns fãs que divergem politicamente, ou que dizem ter pago seu ingresso "para curtir, e não assistir a protestos", os artistas não erram em quebrar junto com a guitarra ou largar junto com a palheta, o pressuposto da isenção sobre suas imagens.

Bono Vox, vocalista do U2, é figura conhecida quando se aborda a mescla entre protestos e a arte da música. O líder do grupo irlandês sempre procura passar - e com razão - uma mensagem política dentro e fora dos palcos. Em 2018, durante as eleições presidenciais no Brasil, a banda aderiu ao movimento "Ele não", contrário à candidatura de Jair Bolsonaro, enfurecendo os apoiadores do atual presidente e fãs da banda. "A banda não é a mesma de antigamente", disse um usuário no Twitter na época.

Notavelmente, todos têm o direito de se posicionar ou não politicamente. Isto é um fato. E sim, quando se adquire um ingresso para um espetáculo, não há nada que diga que você é obrigado a apoiar um lado ao qual você não se identifica. Mas assim como os ouvintes possuem o livre arbítrio para escolherem atender ou não a um show, os artistas, como cidadãos civis, também têm a liberdade de expressar sua opinião, seja ela política ou não.

Conforme disposto no artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal Brasileira: "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". Quem acha ruim que artistas façam de seus palcos uma ágora da contemporaneidade, precisa ler mais o livrinho verde e amarelo, tão fundamental em tempos de ameaças contra a democracia. 

Claro que isso pode acarretar em consequências para os artistas, os quais precisam estar cientes de uma potencial rechação e preparados para o famoso efeito "blacklash", que pode ser traduzido para o Português como“efeito chicote”, isto é, uma reação generalizada de reprovação a cerca de determinada mudança ou ação. No ano passado, a cantora Juliette foi alvo disso. A ex-BBB perdeu 45 mil seguidores no Instagram após se posicionar contra Bolsonaro e a favor das vacinas. Outros cantores sertanejos, por sua vez, também enfrentaram críticas ao apoiarem manifestações em prol do presidente, como Amado Batista e Sérgio Reis.

"Para mim não faz sentido, vivendo num país do jeito que está, se preocupar se você vai perder seguidor, contrato ou admiração de meia dúzia de pessoas. Porque você entende que você precisa se expressar politicamente. Arte é política", disse a atriz Bruna Marquezine em uma entrevista recente ao podcast "Quem Pode, Pod". Ela deixou claro seu alinhamento ao candidato de esquerda à Presidência da Republica Luiz Inácio Lula da Silva.

Se posicionar politicamente é um direito de todos, e, no Brasil, sendo artista ou não, nada lhe impede de expressar seu pensamento e manifestar suas opiniões pacificamente, um direito conquistado e assegurado com muito esforço - e sangue - após anos de Ditadura Militar. Não interessa se você pagou caro em um ingresso para assistir à apresentação do seu artista preferido e, na hora, ele levantou aquela bandeira que você não concorda. Você tem todo o direito de se retirar e, inclusive, não comparecer mais a concertos dessa pessoa. O direito à livre expressão de opinião se aplica a todos, seja ele seu ídolo ou seu maior inimigo. Aprender a lidar com isso é o primeiro passo para saber viver em uma democracia.

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