11 de novembro de 2022

Por trás da maquiagem, um mega

Por Patrícia Vilas Boas 

São Paulo, 11 de novembro - Uma xícara de café e um energético me seguravam durante a tarde toda. Eu, exausta de um dia cansativo na maquiagem, rolava incansavelmente a linha do tempo do Instagram enquanto as modelos acabavam com o catering no final do desfile. Parecia até que elas tinham reservado todo o espaço de seus estômagos para aquele momento. 

Quando a cliente se certificou que todas as modelos - e quiçá as convidadas “VIPs” do Nova York Fashion Week -, não precisariam mais dos meus serviços (e vai por mim, ela demorou a perceber, ou pelo menos expressar isso a mim) ela me dispensou com um agradecimento seco e o pedido de uma nota fiscal para pagamento em 30 dias, que eu fiz questão de emitir e encaminhar para o seu e-mail no mesmo minuto. 

Até ai meu dia seguia normal como o de qualquer maquiadora que tem o sofrimento representado em letras garrafais as siglas P e J. Não pagaram meu transporte, lá estava eu dentro do metrô nova-iorquino voltando para o cubículo que a empresa tinha alugado como estadia para os prestadores de serviço dessa mega grife parisiense. 

A poucos minutos da minha chegada, meu telefone celular começa a apitar. Na tela, o nome “Contratante” pisca por várias vezes. Eu hesito em atender, conto até três, e aperto o botão verde para falar. Do outro lado da linha, a pergunta mais parecia um pedido de socorro. “Olha, houve um problema com os cálculos da administração e nossa organizadora acabou de perceber que não temos budget suficiente para pagar nossos maquiadores, gostaria de saber se você aceita permuta como parte do pagamento, também temos parceria com uma empresa caríssima de megahair que pode te oferecer os serviços ‘na faixa’, lhe interessa?”.

Dei risada internamente. Depois de 12 horas de trabalho, seis de desfile, o dia todo sem comer, dividindo um cubículo com outros sete artistas e tendo que ouvir as mentiras que os clientes vomitam para a imprensa sobre o quanto a grife glamourosa é sisuda e vai bem financeiramente, ela acha mesmo que eu vou aceitar parte do meu pagamento em fios de cabelo? Pois bem, olhei minha imagem no reflexo do metrô e pensei “eu bem que ficaria legal de cabelo comprido”. E não é que eu fiquei mesmo?

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