27 de setembro de 2022

A janela de amanhã

Quando se fecha uma porta se abre uma janela e o que resta é olhar por ela

Por Ana Caroline 

São Paulo, 27 de setembro - Um cenário que não muda ou que muda tão pouco, que os detalhes se apresentam quase imperceptíveis em rotinas repetidas e cheias de pressa.

Eu passei a ver o exterior através da minha janela e a paisagem era sempre a mesma, mas, com cada marca no calendário, eu olhava e via algo a mais. Seria um novo tom de azul no céu? Com uma casa que mudou de cor, a roupa no varal, uma planta sem água na varanda alheia, os carros indo e vindo e as pessoas com cara fechada como se fossem suas máscaras? As pessoas sempre usaram máscaras, mas essa era a primeira vez que elas cobriam de fato o rosto. E os olhos se tornaram mais do que nunca as janelas da alma, mais uma janela aberta, porém, várias portas fechadas. Quantas portas se fecharam para que as pessoas tenham tanto medo de se mostrarem frágeis em parar, pedir trégua e descansar?

O teto, os livros, a ordem dos objetos, tudo quase decorado, um tiquetaque incessante em tantos relógios ao mesmo tempo, e alguns relógios pararam de contar as horas, mas as janelas permaneceram abertas e o que restava era olhar por elas, tentando enxergar algo novo, nos detalhes esquecidos, nos sonhos planejados, nas despedidas inesperadas, nas cores desbotadas, nos medos além da janela, que se apresentavam como uma ameaça cheia de incertezas para o amanhã que fazem a gente viver em alerta e se autocobrando?

Quando não olho a janela, a rotina se repente em café, tela, café, tela, café, tela. Sempre com um misto de ansiedade e medo.

Como será a paisagem quando eu abrir a janela amanhã?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe comentários agradáveis!
Isso me incentiva ainda mais a postar coisas de bom conteúdo!

Equipe
-Patrícia
-Stephanie

myfreecopyright.com registered & protected