Por Ana Caroline
São Paulo, 17 de novembro - No mês de setembro, diversas salas de cinema se reuniram para realizar a Semana do Cinema, com promoções para aumentar a frequência do público que foi bastante prejudicada nesses dois anos de covid.
Mesmo com a campanha da quarta dose da vacinação contra a Covid, a procura por cinema pelo público continuou baixa. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha com parceria do Itaú Cultural revelou que o cinema é a atividade que mais fez falta na pandemia entre outras atividades culturais que também foram mencionadas como teatro, shows, apresentações de danças, biblioteca e centros culturais, mas, que o público ainda prefere consumir produtos audiovisuais em plataformas de streaming no conforto de seus lares.
A proposta da Semana do Cinema é recuperar o número médio de frequência que tinham antes da pandemia, com ingressos a 10 reais e combos com preços mais acessíveis. Algumas salas de cinema foram além de uma semana de promoção e estenderam para até o fim do mês de setembro. O evento foi um sucesso e lotaram diversas salas, quem chegava tarde para comprar via uma fila gigantesca e poucas cadeiras para escolher.
Isso só provou que a mudança do hábito de ir ao cinema vai muito além de uma mudança de comportamento e preferência, mostrou-se muito mais com uma questão social pelos preços salgados dos ingressos e das pipocas. As classes C e D, muitas vezes de regiões periféricas, tem poucas opções de entretenimento e centro culturais perto de suas casas, tornando os shoppings lugares de lazer nos fins de semana. Entretanto, como ir frequentemente ao cinema com a família com ingressos a 40 reais a inteira e 20 a meia de sexta, sábado, domingos e feriados quando a inflação em alta dificulta a manutenção de itens básicos à sobrevivência e permite que 60 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar atualmente no Brasil, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)?
Falta incentivo e campanhas que possam trazer pessoas de baixa renda ao cinema o ano todo, não só em uma única semana do ano. Não é impossível e muitos cinemas já possuem programas e promoções que permitem pagar mais barato pelos ingressos, como Clube de fidelidade, parceria com outras empresas que oferecem 50% de desconto, porém, poderia ser feito mais programas focados nas classes mais baixas em regiões específica, cinemas periféricos, para que a população possa desfrutar desse lazer e fazer disso um hábito.
Outra pesquisa divulgada pela Ancine, agência reguladora de produções audiovisuais do Brasil, apontou que apenas 17,3% das classes C e D foram pelo menos 1 vez no cinema no ano de 2017. Ancine aponta que pessoas com maior escolaridade, mesmo de baixa renda, vão ao cinema com mais frequência devido a política de meia-entrada.
A meia-entrada não beneficia os mais pobres porque são pessoas que encontram mais barreiras para continuar o estudo, sendo assim, ficam menos tempo como condição de estudante do que uma pessoa de classe mais alta que emenda ensino médio, graduação, pós, mestrado etc do que uma pessoa que terminou o ensino médio e já entrou no mercado de trabalho com horário integral e poucas oportunidades para entrar no ensino superior.
A esperança de um novo Governo que possa controlar a inflação de produtos essenciais, incentivar a produção de cultura e lazer, além de tirar o país do mapa da fome novamente permite que a gente sonhe com uma realidade que cultura e lazer seja um assunto abordado com seriedade e traga novas soluções para essas barreiras da população mais carente.